quinta-feira, 19 de junho de 2008

O medo nos mudou

A única vitória que perdi
Foi aquela que procurei e de que fugi.
Num momento desejava
Noutro, já receava…
É triste quando o que por tanto lutamos
Se transforma naquilo que rejeitamos…
Oh triste vida que nos confunde,
Indecisão e incerteza surge,
Consome-nos a alma continuamente
O medo vai crescendo lentamente
E agora sou eu… Somente.
Veneno, antídoto transformou
E a mudança assim se iniciou
Já Camões assim dizia:
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”
Da vida é por isso filosofia
Daqueles que há muito abandonaram as saudades.
E por isso a única vitória que perdi
Começou quando mudei e acabou quando fugi.

sábado, 7 de junho de 2008

A AVÓ A CIDADE E O SEMÁFORO

Se não fosse aquele amável semáforo, o que seria dela?
Todos os dias, a avó se “aperaltava” por volta das 4 horas da tarde.
Calça azul escura, casaquinho com pele de coelho na gola, sapatos de salto baixo (que as pernas já não são o que eram…); pó-de-arroz na cara, rouge nas bochechinhas e um baton bem vermelhinho. Por detrás duns óculos de aros dourados, espreitavam uns olhinhos azuis muito vivos e brilhantes. Como remate uma boina verde descaída sobre a orelha direita.
Às cinco, as amigas esperavam por ela na “Brasileira”. Às cinco e meia, os dois netos saíam do colégio e passavam pela pastelaria para lhe dar um beijinho.
A casa da avó não ficava longe da “Brasileira”, mas o trânsito era tão intenso e os semáforos faziam-lhe muita confusão, sempre mudando de cor…
A sua sorte foi o tal, o simpático, o semáforo da sua rua…
Um dia, ela ia pôr o pé fora do passeio (distraída), quando ouviu um aflitivo: - “Psssst…Psssst…”! Olhou e, era o semáforo que falava com ela: -“Avó, não pode! Não vê que estou verde para os carros e vai ser atropelada?”
Ficou tão nervosa e atordoada que ele (o semáforo), até lhe deu uma pancadinha nas costas para a acalmar.
- Ó avó – disse ele – passe aqui o braço à minha volta e leve-me consigo!
A avó ainda ia começar a dizer que ele devia ser muito pesado mas, pasmada, verificou que o semáforo era leve como uma pena.
E lá foram!
Agora já não é espanto para ninguém. De há uns tempos para cá, nas ruas perto da "Brasileira”, há uma senhora já idosa, que por volta das 4 horas da tarde, atravessa calmamente e em segurança ruas e avenidas.
Pudera! Leva com ela um amável semáforo de luz vermelha permanentemente acesa.
Os carros param e os condutores com um sorriso de espantosa compreensão, fazem-lhe um amigável aceno.
E pronto! A avó lancha com as amigas, recebe um beijinho dos netos e mais tarde voltará para casa.
Encostado à cadeira do Fernando Pessoa, bocejando piscadelas intermitentes de luz amarela, lá está o semáforo à sua espera.
E por força do hábito, o Poeta, na sua cabeça de estátua vai versejando:

“Vomitando amarelos
Na mesa do meu café
Não é bicho nem é homem
Que diabo é que isto é???”

:) Feito com auxílio.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Chuva

Pequenos diamantes que caem,
Cristais de pura essência.

Afogam ruas, caminhos e vales.
São as lágrimas dos céus.
Limpam e escondem tristezas.
Do nosso mundo são véus.

Trazem paz mas também medo.
Sua calma pode ser tormenta.
Iludem os loucos, felizes de seu mundo.
Nem escapam os outros no seu buraco profundo.

A todos chegam, a todos atingem.
Felicidade ou tristeza,
Com elas de mãos dadas.
Da mais pura realeza
Caem elas apagadas.

De negros mantos surgem,
Por vezes até dos imaculados.
Acompanham também os raios,
Medos, fúrias e relâmpagos.

Seus sons são variados.
Calmos mas outrora apaixonados.
De uma paixão dura e fria,
Marcam assim o nosso dia.

As lágrimas que caem do céu.
Afinal o que são?
Nada mais que apenas gotas.
Trazendo talvez uma ilusão.

Alícia Ventura