segunda-feira, 14 de abril de 2008

Na tal noite

Já tinham caminhado por léguas e léguas. O acampamento não se avistava. A lua banhava as areias do deserto como a um mar de prata. Samir, o xeque que estava disfarçado de camponês para sua segurança, guiava a pequena caravana junto com Malik, seu eterno companheiro. Ao longo da sua caminhada já tinham perdido vidas e os camelos já haviam perdido quase todas as suas forças. Até que, finalmente, avistaram o Oásis de Prata. Já faltava pouco até ao acampamento desconhecido do xeque, usado aquando do perigo de conspirações contra os governantes. Não aguentavam enfrentar mais uma noite do deserto sem descanso. Decidiram ficar ali, até que todos se sentissem melhor e os camelos recuperassem as suas forças. Samir era até ao momento o xeque mais honesto e humano de todos, mas nada impedia os conflitos antigos. Nessa noite preferiu montar a sua tenda afastada das restantes; precisava de paz, de se isolar e esquecer tudo o que se passava à sua volta. Mas nessa noite, algo estava diferente; algo, não, alguém. Radija, secreta paixão do xeque, sentia que apenas ela podia apaziguar Samir, e embora sua paixão fosse apenas um sussurro entre os loucos, não podia vê-lo assim. Quando a lua ia alta, saiu de sua tenda e foi ter com ele. Samir estava pensativo no canto da sua tenda, ao ver Radija, esta com o medo de ser vista espelhado nos seus olhos, algo no seu corpo estremeceu. Vê-la assim fê-lo perceber que o que a sua alma lhe pedia não era isolamento, fuga da realidade. Era Radija. Nessa noite Samir esqueceu-se de todos os conflitos. Apenas queria agarrar um pouco de paz e felicidade. Sob a lua cheia, nessa noite de prata, barreiras foram quebradas. Não iriam mais esconder o que lhes dava vida. Embora ainda não o soubessem, nessa noite o destino de um reino foi traçado.

Sem comentários: